Duas coisas que especialistas fazem de forma diferente quando praticam

(Texto original do Dr. Noa Kageyama – Two Things Experts Do Differently Than Non-Experts When Practicing. Tradução: Bruno Madeira)

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Você alguma vez já viu aquele tipo de infomercial que uma pessoa vai do tamanho 52 para o 36 em oito semanas, joga fora as calças antigas, casa com alguém e vive feliz para sempre? (Se não, você precisa checar esses cinco piores infomerciais de fitness de todos os tempos – especialmente a Hawaii Chair, que com certeza você poderia usar para tonificar seu abdômen enquanto estuda seu instrumento.)

Eu admito que fui tentado pelo AB Toner, AB Swing e vários outros equipamentos, porque a coisa mais frustrante sobre fazer exercícios é que é difícil saber se você está fazendo o melhor uso do seu tempo.

Quero dizer, é claro que fazer alguma coisa é melhor do que fazer nada, mas e se existir outra rotina de exercícios que poderia me levar a resultados muito melhores na mesma quantidade de tempo?

O que as pessoas em boa forma fazem que eu não faço? Como seus exercícios são diferentes? Existem coisas importantes que eles fazem enquanto se exercitam que dão maior retorno do que as coisas que eu faço? Em outras palavras, eles estão extraindo do tempo deles na academia resultados desproporcionalmente maiores do que os meus?

O mesmo pode ser dito em relação à sala de estudos. O que os melhores músicos fazem na sala de estudos? O que os estudantes menos efetivos fazem? Existem diferenças?

De fato, parece que existem.

Melhor vs. pior

Dois pesquisadores da City University of New York fizeram um estudo em jogadores de basquete para ver se eles poderiam discernir a diferença enter os hábitos de treinamento dos melhores arremessadores de lance livre (70% de acertos ou mais) e os piores arremessadores (55% de acerto ou menos).

Descobriram várias diferenças, mas elas se resumiam a duas em particular.

Diferença nº. 1: Metas foram específicas

Os melhores arremessadores de lances livres tinham metas específicas sobre o que eles queriam obter ou focar antes de fazerem um treino de arremessos. Algo como “eu vou acertar 10 dos 10 arremessos” ou “eu vou manter meus cotovelos para dentro”.

Os piores arremessadores tinham metas mais genéricas, como “fazer o arremesso” ou “usar boa posição”.

Diferença nº. 2: Atribuições do erro foram específicas

Invariavelmente, os jogadores erravam arremessos algumas vezes, mas quando os melhores arremessadores erravam, eles tendiam a atribuir seus erros a problemas técnicos específicos, como “eu não dobrei meus joelhos”. Isso os levava a uma meta mais específica para a próxima tentativa e um processo de reflexão mais consciente sobre o acerto ou erro do arremesso subsequente. Muito melhor do que dizer “sou ruim”, “o que há de errado comigo?” ou “droga, eu nunca vou conseguir fazer isso”.

Em contraste, os piores jogadores tendiam a atribuir o fracasso a fatores não-específicos, como “meu ritmo não estava bom” ou “eu não estava focado”, o que não informa muito para a próxima tentativa.

Não é o que você sabe, mas o que você usa

Você pode estar pensando que talvez os piores jogadores não tenham focado em estratégias técnicas específicas simplesmente porque eles não as conheciam. Você poderia achar que talvez os melhores jogadores fossem aqueles que focaram na técnica e estratégia porque eles sabiam mais sobre como arremessar com a posição correta.

Os pesquisadores também pensaram nisso e especificamente controlaram essa possibilidade testando o conhecimento dos jogadores em relação a técnica de arremesso. Descobriram que não havia diferenças significativas do conhecimento de especialistas e não-especialistas.

Tanto os melhores quanto os piores jogadores tinham o mesmo nível de conhecimento para se basear, mas pouquíssimos dos piores jogadores realmente usaram essa base. Enquanto isso, os melhores jogadores usaram com muito mais frequência seus conhecimentos para pensar, planejar e direcionar seu tempo de treinamento de forma mais produtiva.

Tome uma atitude

Quando você estiver praticando algo técnico, tente usar metas mais específicas.

Mas talvez mais importante do que isso é prestar atenção em como você fala com você mesmo depois de errar. Você foca na técnica? Ou só xinga um pouco e já segue para mais uma tentativa sem tentar descobrir o que você errou na última?

O resumo em uma frase

“Sem conhecimento, a ação é inútil. Sem ação, o conhecimento é fútil.”  – Abu Bakr


Comments

3 respostas para “Duas coisas que especialistas fazem de forma diferente quando praticam”

  1. […] Além do mais, praticar desse jeito na verdade prejudica sua confiança, porque existe uma parte de você que percebe que você não sabe realmente como produzir consistentemente os resultados que você está procurando. Mesmo que você estabeleça uma taxa de sucesso razoavelmente alta na maioria das passagens através da prática desatenta, que você descubra que consegue acertar 3 ou 4 de cada 5 tentativas, sua confiança não crescerá muito. A confiança real no palco vem de: a) ser capaz de acertar 10 a cada 10 tentativas, b) saber que isso não é uma coincidência, mas que você sabe fazer da forma correta sob demanda, principalmente porque c) você sabe precisamente o porquê de você ter acertado ou errado, isso é, você sabe exatamente o que precisa fazer de um ponto de vista técnico para tocar a passagem perfeitamente todas as vezes. (Nota do tradutor: sobre esse assunto, recomendo outro texto do mesmo autor, traduzido em Duas coisas que especialistas fazem de forma diferente quando praticam.) […]

  2. […] se isso soa vagamente familiar, você pode relembrar que um estudo sobre basquete encontrou algo muito similar nos hábitos dos melhores arremessadores de lances […]

  3. ótimas reflexões! obrigada pelas mensagens.

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