Sonatina Meridional, de Manuel Ponce

Sonatina Meridional, de Manuel Maria Ponce (1882-1948) é a peça que fecha o recital Nosso norte é o Sul.

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Ponce foi um dos pioneiros do nacionalismo musical mexicano, tendo composto várias peças com temas do seu país (Sonata MexicanaTres Canciones Populares Mexicanas, Scherzino Mexicano e outras). Porém, no primeira movimento da Sonatina Meridional ele usa uma canção popular espanhola, sugerida por Segovia em uma carta, como segundo tema. Procurando pela internet, achei uma interessantíssima gravação do tema original, cantado:

En lo alto de aquella montaña
yo corté una caña, yo corté una flor
para el labrador, labrador ha de ser.
Que quiero a un labradorcillo
que coja las mulas y se vaya a arar
Y a la media noche me venga a rondar
con las castañuelas, con el almirez
y la pandereta que retumbe bien.

Si en lo alto de aquella montaña
te ofrezco la caña, te ofrezco la flor
también labrador yo te quiero ofrecer.
Mi amor que es humilde y sencillo
y que con paciencia le gusta esperar
y a la media noche me venga a rondar
con las castañuelas, con el almirez
y la pandereta que retumbe bien.

En lo alto de aquella montaña
yo vi una mañana al primer albor
a mi labrador, labrador ha de ser.
Que quiero a un labradorcillo
que coja las mulas y se vaya a arar
y a la media noche me venga a rondar
con las castañuelas, con el almirez
y la pandereta que retumbe bien.

A peça foi composta em 1930 com o título de Sonatina e os movimentos apenas com os títulos de Allegro non troppoAndante Vivace. Foi Segovia que na edição de 1939 a batizou como seria conhecida desde então: Sonatina Meridional, com os movimentos CampoCoplaFiesta.

Além do título, várias alterações foram feitas, como era de costume entre a relação de Ponce e Segovia. Angelo Gilardino chega a escrever no encarte de um CD de Francisco Gil que as composições de Ponce, a maior parte escrita em Paris entre 1923 e 1932, “são na verdade um trabalho a quatro mãos, que em outras circunstâncias não me pareceu excessivo atribuir, jocosamente, a um autor chamado ‘Pongovia’”. Sobre essas alterações, aos violonistas eu recomendo ler as notas críticas publicadas pelo Tilman Hoppstock na edição urtext de várias peças de Ponce.

Manuel Ponce (1882-1948)
Manuel Ponce (1882-1948)

Em abril de 2014 eu dei um recital em Londrina tocando só música espanhola. Tocar a Sonatina Meridional foi uma exceção, porque apesar do compositor ser mexicano, existe uma influência espanhola. Então na elaboração desse recital de música latino-americana, fiquei achando que Ponce também seria uma exceção, tendo cogitado até excluir a peça do programa. Porém, entendi que a Sonatina Meridional pode ter sido uma das maneiras do compositor aceitar a influência espanhola na música mexicana. Para mim, “Nosso norte é o Sul” é valorizar as culturas sul-americanas, mas sabendo que dentro delas há uma inegável presença de elementos de fora, que também contribuem para sua riqueza e diversidade.


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