Heitor Villa-Lobos é provavelmente o músico brasileiro de maior reconhecimento e reputação internacional. Nascido em 1887, teve um grande contato com a música desde criança, tendo aulas de violoncelo e aprendendo a tocar violão nas rodas de choro cariocas.
Sua música mistura aspectos variados, influências vindas de Bach, do choro, de música indígena, música caipira. Embora tenha composto para diversas formações (entre elas muitas inusitadas, como octetos de violoncelos, concertos para instrumentos pouco comuns), um dos maiores destaques de sua obra está na música escrita para violão solo.
Obra para violão
Seu trabalho para violão é estudado no mundo inteiro, sendo amplamente exposto em recitais e eventos violonísticos. Sua escrita é tipicamente violonística, e suas obras são de um grande nível técnico-interpretativo, motivo pelo qual são freqüentemente peças de confronto em concursos nacionais e internacionais.
Os 5 Prelúdios de Villa-Lobos são uma síntese de suas influências. O Prelúdio nº. 1 ressalta técnicas de viola caipira, evocando o sertanejo brasileiro. O segundo faz referência ao choro, com a harmonia e ritmo típicos desse gênero. O seguinte se remete a Bach, na primeira parte explorando sonoridades em um ritmo livre e na segunda uma melodia mais definida, com uma estrutura semelhante à Toccata e Fuga em Ré Menor, BWV 565. O Prelúdio nº. 4 traz características da música indígena brasileira, com um caráter primitivo e passagens que exploram os harmônicos do violão. Por fim, o quinto prelúdio exalta a vida social no Rio de Janeiro, sendo uma peça com um ritmo constante inspirado nas danças de salão do fim do século XIX e início do XX.
Os 12 Estudos são um marco para a escrita violonística, são realmente divisores de água na história do violão. Cada um deles o foco em um aspecto técnico a ser trabalhado, mas n não são estudos para iniciantes, pois exigem um grande conhecimento prévio para serem bem executados. Ao tocar os 12 Estudos, a expectativa é que o músico consiga executar praticamente todo o repertório violonístico sem grandes dificuldades, pois são solucionados problemas técnicos e musicais com arpejos, escalas, condução de vozes, ligados, entre outros.
Composta entre 1908 e 1923, a Suíte Popular Brasileira é uma obra na qual Villa-Lobos usa a forma tipicamente europeia suíte (conjunto de pequenas peças reunidas, com um objetivo geral conjunto), adicionando influências brasileiras. O choro é um gênero musical nascido nos bailes europeus realizados no Brasil no final do séc. XIX e começo do séc. XX. A mazurka, valsa, schottisch e gavota eram tipos de música comuns para a dança nesses bailes, e foram gradualmente sendo alterados pela interpretação brasileira, resultando no choro. Villa-Lobos seleciona estas danças e compõe a suíte com o sotaque brasileiro, fazendo a suíte composta de Mazurka-choro, Schottisch-choro, Valsa-choro, Gavota-choro e Chorinho.
O Choros nº. 1 faz parte da série Choros, quatorze peças (precedidos por uma introdução e sucedidos por um bis) compostos para formações variadas, indo de piano solo até orquestra completa, passando por duos de flauta e clarineta e quartetos de três trompas e um trombone. Somente o primeiro dos Choros é para violão solo e sua forma é o rondó em três partes típico do gênero.
É importante destacar na produção de Villa-Lobos o Concerto para violão e orquestra, um dos concertos mais tocados em todo o mundo. Em três movimentos (Allegro preciso, Andantino e Allegretto, com uma Cadenza entre o segundo e o terceiro), o concerto foi estreado por Andres Segóvia em 1956, com Villa-Lobos regendo. Segundo Marco Pereira, o concerto “representa, de certa, forma, a síntese de todas as inovações introduzidas pelo compositor na técnica violonística, ou melhor dizendo, na escrita violonística”.
Villa-Lobos faleceu em 1959, deixando um grande legado para o violão e para a música.
“Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade sem esperar resposta.” – Heitor Villa-Lobos
Deixe um comentário