(Texto original do Dr. Noa Kageyama – Is Slow Practice Really Necessary? Tradução: Bruno Madeira)
Assim como todo mundo que já teve aula de música alguma vez na vida, muitas vezes me disseram para praticar lentamente.
Mas eu ouvi com atenção o conselho dos meus professores?
Não.
Afinal, qual é o objetivo de tocar lentamente? Tudo é mais fácil quando é mais lento – é claro que você consegue tocar coisas de forma mais precisa em um andamento lento. Qual seria o grande negócio?
Mas então por que tantas pessoas idolatram a prática lenta?
Prática lenta nas artes marciais
Eu comecei a me arriscar nas artes marciais quando eu fui para a universidade. Meu sensei do caratê frequentemente nos fazia praticar as técnicas em câmera super lenta para garantir que estávamos usando a forma correta e realmente desenvolvendo um entendimento das nuances de cada movimento.
É claro, levou tempo para que eu entendesse o porquê de nós estarmos fazendo aquilo. De início, como na música, eu pensei que era uma perda de tempo. Mas então eu percebi como era mais difícil socar ou chutar em câmera lenta. Isso exigia um entendimento muito mais profundo do que cada movimento realmente requeria. Lentamente (hehe) eu fui entendendo onde eu perdi o bonde por todos esses anos.
O objetivo não é se o soco ou chute acerta o alvo (ou se você acerta um salto ou toca a nota afinada), mas se você faz tudo corretamente no caminho. Quer dizer, você está mantendo seus principais músculos soltos? Você está movendo todos os seus músculos da maneira mais eficaz? Você está maximizando a acurácia e a eficiência? Você está acertando todos os mínimos detalhes?
Prática lenta em música
Eu esqueci sobre tudo isso até muito recentemente, quando tive o prazer de entrevistar o spalla da Orquestra de Philadelphia, David Kim, para um projeto que estou trabalhando (incidentalmente, cheque esse remédio pessoal para jetlag).
Ele revelou que uma das chaves do seu sucesso (e da construção da sua confiança também) é a prática super lenta. Um processo de praticar em câmera lenta, enquanto se está completamente atento, altamente engajado e pensando profundamente em tempo real sobre o que se está fazendo.
A propósito, esse não é um processo doloroso e torturante, mas frequentemente um processo cativante e gratificante. É uma forma de abrir a porta para muitas prazerosas micro-descobertas que podem ser a chave para uma frase soar do jeito que você quer e comunicar exatamente o que você pretende.
Isso é muito parecido com o que o grande golfista Ben Hogan aparentemente fez para aprimorar seu tacada – veja só esse vídeo de Hogan demonstrando como ele trabalha seu movimento em câmera lenta.
Dois mal-entendidos
Então por que nós não praticamos lentamente? Não é porque somos preguiçosos, eu acho é que é um grande mal-entendido.
1. Nós estamos muito preocupados com o resultado, não com o processo
Quer dizer, nós esquecemos que o como nós chegamos lá é tão importante quanto se nós chegamos ou não.
O objetivo da prática lenta não é só desacelerar as coisas para se tocar perfeitamente. É sobre lapidar a execução e procurar por maneiras adicionais de tocar ainda melhor, enquanto nós estamos tocando devagar o suficiente para monitorar e pensar sobre os pequenos detalhes.
Você está cultivando os hábitos corretos, de forma que quando o andamento sobe, você ainda está tocando da maneira correta? Ou existem muitas ineficiências, ou hábitos ruins que levarão a colapsos quando você aumenta o andamento?
2. Nós não praticamos suficientemente devagar
Desde que o objetivo maior é ser capaz de pensar, monitorar e analisar nossa técnica enquanto tocamos, praticar em um andamento moderado vai contra o propósito. É muito rápido para que observemos, processemos completamente e ajustemos todos os pequenos detalhes.
A ideia é utilizar a prática super lenta para que possamos prestar atenção em todas as sutis nuances da nossa mecânica, aumentar nossa consciência do que está realmente acontecendo e encontrar maneiras de fazer melhor as coisas.
Então pode ser mais preciso pensar nisso como uma prática em câmera lenta ou em uma prática super lenta, ao invés da velha conhecida prática lenta, que tende a nos levar para execuções desatentas de uma passagem em um andamento moderadamente lento.
Leia esse artigo escrito pelo especialista em artes marciais Peter Freedman, que ajuda a clarificar o que nós devíamos estar fazendo quando estamos praticando lentamente. (Nota da tradução: infelizmente o artigo citado está com o link quebrado e não encontrei outras referências. O título é “Train Slow to Learn Fast”.)
Tome uma atitude
Tente! E não esqueça de estar com seu caderno de prática à mão, pois você sem dúvidas descobrirá novas soluções e sutis detalhes técnicos dos quais você não estava anteriormente consciente.
Leitura bônus: faça o download desse ótimo artigo sobre como o cérebro e os músculos trabalham juntos para desenvolver nossas habilidades, especificamente em música. Ele foi escrito pelo neurologista e autor Dr. Frank Wilson e é um daqueles “clássicos que você precisa ler”, passados de músico para músico.
UPDATE: Precisa de ajuda para ir do devagar para o rápido? Aqui estão algumas ideias do Gerald Klickstein.
UPDATE: Eu encontrei um estudo uma vez que sugeria que em alguns casos nós aprendemos mais rápido quando nós enfatizamos velocidade ao invés da precisão (O que?! Soa como heresia, eu sei). Aqui está um exercício esperto que usa essa ideia.
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