(Texto original do Dr. Noa Kageyama – Learn Quicker by Thinking Less about What Your Body is Doing. Tradução: Bruno Madeira)
Eu não sou bem um jogador de tênis, mas como queria dar aos meus filhos uma introdução ao esporte no último verão, pegamos umas raquetes do tamanho adequado para crianças e fomos rebater umas bolas. Naturalmente, eu comecei ensinando o básico de como se segurar a raquete, a postura do corpo e a rebatida… E consegui enchê-los de instruções que os paralisaram com coisas demais para se pensar. Eu também acabei completamente com toda a diversão do que seria essencialmente bater em bolas com um trampolim na mão.
Instruções são uma grande parte do aprendizado de qualquer nova habilidade motora – especialmente instruções centradas em técnicas e no aprendizado dos movimentos corretos do nosso corpo.
Isso faz um perfeito e intuitivo sentido, mas é essa a maneira mais eficaz para aprender uma nova habilidade?
Pesquisas recentes sugerem que essa não é uma abordagem particularmente eficaz – focar nos nossos movimentos corporais na verdade resulta em performances piores e uma taxa de aprendizado mais lenta.
E aí?
Primeira aula de golfe
Em uma pesquisa, 22 jovens adultos sem nenhuma experiência anterior no golfe precisavam acertar bolas de golfe em alvo a 15 metros de distância. Foram dados para cada um 10 bolas, um taco e uma mini-aula de 10 minutos sobre o essencial para a tacada nessa distância, incluindo o jeito correto de se segurar o taco, a posição corporal e postura.
Então eles receberam um dos dois diferentes conjuntos de instruções em relação ao swing:
- Um grupo (o grupo do foco interno) recebeu instruções pensadas para direcionar sua atenção para o movimento de seus braços – como os braços esquerdo e direito vão da posição esticada e curvada durante o backswing, para a esticada durante o swing, culminando na curvada e esticada durante o fim do movimento.
- O outro grupo (o grupo do foco externo) foi instruído de maneira à direcionar sua atenção para o movimento do taco – especificamente, para fazer o taco se mover como um pêndulo.
Depois os participantes tiveram 80 chances de praticar para acertar o alvo (8 sequências de 10 tacadas).
Foco interno contra externo
Como você deve estar esperando, ambos os grupos melhoraram com a prática.
Mas um grupo significativa e consistentemente teve performances melhores do que o outro.
Desde a primeira sequência de 10 tacadas, o grupo de foco externo acertou mais bolas perto do alvo. Eles mantiveram sua vantagem na precisão em todas as 8 sequências, tendo um resultado médio de 21.0 (de 50), que foi quase duas vezes o do grupo de foco interno (10.8).
Para verificar se isso tinha sido apenas um efeito temporário de prática, ou se poderia haver algum aprendizado mais duradouro envolvido, os pesquisadores trouxeram os participantes de volta no dia seguinte e os fizeram dar mais 30 tacadas no alvo (3 sequências de 10) sem instruções específicas.
Mais uma vez, o grupo de foco externo foi melhor do que o grupo de foco interno, sugerindo que a estratégia externa pode ter contribuído não apenas para uma melhor performance, mas para um maior aprendizado e retenção também.
Movimentos contra efeitos dos movimentos
Estudos de outras habilidades no esporte também observaram esse fenômeno.
Melhoria na porcentagem de arremessos livres no basquete. Lançamentos de dardos mais precisos. E até saltos verticais mais altos.
Em algum ponto, a utilização do foco interno para aprofundar o entendimento da mecânica de uma habilidade é uma parte necessária do processo de aprendizado e desenvolvimento da maestria, mas evidências parecem sugerir que existem casos nos quais o aprendizado motor pode ser acelerado se nós focarmos menos nos movimentos de nossos corpos e mais nos efeitos desejados dos nossos movimentos.
Tome uma atitude
Como que isso fica na prática?
A literatura sugere que podemos acelerar o aprendizado de novas habilidades quando ajudamos nossos alunos a focar menos nos seus movimentos e mais nos efeitos externos de seus movimentos.
Alguns exemplos da literatura:
Voleibol. “Mude seu peso da perna de trás para a perna da frente enquanto bate na bola” (interno) contra “Mude seu peso em direção ao alvo” (externo)
Futebol. “Posicione seu pé embaixo da linha intermediária da bola para levantá-la” (interno) contra “Chute a bola embaixo de sua linha intermediária para levantá-la” (externo)
Ou, ao invés de focar nos movimentos do ombro, braço e mão, necessários para produzir um certo tipo de som em um trecho (interno), talvez seja mais eficaz direcionar nossa atenção no tipo de fricção desejada entre o arco e as cordas (externo).
Parece que a diferença na linguagem pode ser até mais sutil. E que em última instância, o mais perto que nós estivermos de focar no objetivo externo desejado, com maior sucesso nossos corpos se auto-organizarão para conseguir esse objetivo.
Existem muitas questões sem resposta ainda nessa área de pesquisa, e para ser honesto, uma parte de mim permanece um pouco cética, apesar das evidências que se acumularam nas últimas décadas. Más é certamente intrigante…
Estou curioso – o que vocês acham sobre isso? Como isso se relaciona com as suas experiências com tocar e ensinar um instrumento musical?
Leituras adicionais
Se tudo isso soa vagamente familiar, pode ser porque é algo que Timothy Gallwey escreveu no clássico O Jogo Interior de Tênis.
E aqui está um útil levantamento da literatura nessa área – o que nós sabemos, o que não sabemos e o que está por vir: Attentional focus and motor learning: A review of 10 years of research.
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