(Texto original do Dr. Noa Kageyama – Why the Way We Usually Practice Makes Us Think We’re Better Prepared than We Really Are. Tradução: Bruno Madeira)
Quando eu estava no ensino médio, “estudar” significava revisar meu livro e anotações durante a madrugada.
Eu achava que eu estava sendo bem hard-core, e parecia que isso funcionava muito bem, então mantive esse hábito.
Aí eu fui para a universidade e rapidamente descobri que apenas por tudo nas leituras fazer sentido e parecer cada vez mais familiar na medida que mais eu re-lia, não significava que eu podia efetivamente recuperar ou usar aquele conhecimento quando era necessário.
Isso é um exemplo de como a familiaridade pode nos pregar peças. Nós pensamos que sabemos alguma coisa, porque está fresco e facilmente recuperável naquele momento com o livro na nossa frente. Mas tire o livro e nós descobrimos que estamos fritos, já que a informação não afundou tão profundamente quanto nós pensávamos.
Uma coisa parecida acontece na sala de estudos.
A maneira que praticamos na maior parte do tempo nos prepara para esse mesmo tipo de surpresa desagradável, quando entramos no palco e descobrimos que aquela versão incrível de nós mesmos que ouvimos na sala de estudos não está aparecendo.
Como praticamos
A maioria de nós pratica mais ou menos assim:
Tocamos alguma coisa. (Torcemos o nariz insatisfeitos.)
Tocamos novamente… Levemente melhor dessa vez.
E mais uma vez.
E de novo, e de novo… Até que nós acertemos algumas vezes seguidas e sintamos que está legal.
Então vamos para um próximo trecho.
Conhecido como prática em bloco, esse formato faz sentido lógico e parece funcionar muito bem. Afinal, num bom dia, podemos nos ouvir e sentir ficando progressivamente melhor na medida que trabalhamos uma peça. Indo de “xi…” na primeira tentativa para “hmm… nada mal!” no fim da sessão de estudos.
O problema, é claro, é que existe uma ilusão subjacente que nos engana, fazendo acreditar que nossos golpes estão mais seguros do que eles realmente estão.
Julgamento da aprendizagem
Como sabemos o momento no qual aprendemos alguma coisa bem o suficiente para que possamos seguir à próxima? Onde está gravado de forma suficientemente profunda na nossa memória que nós iremos ser capazes de seguramente reproduzir ou recuperar essa coisa quando precisarmos?
Fácil. Nós simplesmente fazemos um julgamento subjetivo sobre quão bem nós aprendemos alguma coisa – conhecido como “julgamento da aprendizagem”.
Porém, essas avaliações subjetivas não são muito confiáveis.
Já que nossa estimativa de quão bem aprendemos algo é baseada em quão facilmente algo vem para nós naquele momento, ela pode levar ao que alguns pesquisadores chamaram de “ilusão de competência”. Onde nós somos enganados a acreditar que temos um trecho melhor aprendido do que realmente temos.
Afinal, é muito diferente o quão bem podemos tocar algo no fim de uma sessão (quando estamos aprimorados por múltiplos aquecimentos e repetições) e o quão bem tocamos frios, quando voltamos aos instrumentos no dia seguinte.
Então o perigo de praticar da forma que normalmente fazemos é que estamos suscetíveis a julgamentos errados do quão bem tocaremos quando a hora da verdade chegar.
Por que isso é um problema? Bom, confiança é uma coisa, mas confiança de mais pode facilmente nos levar a passar por cima e negligenciar áreas do nosso repertório que efetivamente precisam de mais estudo.
Um segundo benefício da prática aleatória
Vários estudos já estabeleceram que a prática aleatória leva a performances superiores quando se fazem testes depois do treinamento, comparada com a prática em bloco (que leva a melhores resultados durante o treinamento, mas piores depois do treinamento).
Um estudo de 2001 revela um segundo importante benefício da prática aleatória. Parece que ela também leva para predições significativamente mais precisas de futuras performances do que a prática em bloco.
Isso é, participantes que praticaram utilizando a prática aleatória foram melhores juízes de quanta “real” aprendizagem ocorreu.
Não sabemos o que é bom para nós
Infelizmente, como quando virando nossos narizes para couve-de-bruxelas e tofu, nós não sabemos sempre o que é bom para nós.
Um estudo de 1978 com participantes sendo submetidos a treinamentos de digitação avaliou algumas sessões de prática diferentes, algumas mais curtas e mais espaçadas, outras com menos tempo entre elas.
Como se viu, os participantes na condição espaçada, melhores para maximizar a aprendizagem, foram os menos satisfeitos com a organização das sessões. Na verdade, alguns deles disseram que prefeririam desistir da pesquisa do que continuar com esse tipo de treinamento.
Enquanto isso, aqueles cujas sessões de prática foram mais comprimidas reportaram o maior nível de satisfação – apesar desse tipo de prática levar aos piores resultados e aprendizagem.
Tome uma atitude
Nós gostamos de praticar de uma forma que nos leva a ganhos imediatos na performance. Nos sentimos bem. Mas o que vem fácil, vai fácil. Às vezes é melhor batalhar no curto prazo, se isso leva para melhores resultados no longo prazo.
Então esteja atento à armadilha de simplesmente praticar algo repetidas vezes até que soe melhor, e aí terminar os estudos do dia. Inclua um pouco de prática aleatória, se teste e tenha certeza de que você realmente pode fazer o que você pensa que pode – sem ter que aquecer no início.
E quando você sugerir estudos diferentes aos seus alunos, como a prática aleatória, saiba que eles podem não necessariamente adotar a nova prática completamente já de início – mesmo que ela esteja funcionando muito bem. Prepare-os para a possibilidade de que eles podem não sentir que o trabalho no presente imediato pode ajudá-los a focar mais nos benefícios de longo prazo.
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